quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Um herói desconhecido

Bom, minha primeira publicação no meu blog, não sei se vai ficar bom ou ruim, enfim, espero conseguir expressar todas as idéias e sentimentos que tenho através desse meio virtual que me disponibiliza isso.Acordei hoje as 06:30 da manhã para levar a minha tia avó no hospital, pois ela recentemente fez uma cirurgia de catarata, chegamos lá no hospital antes das 07:00 e minha tia e minha mãe sairam de lá quase 09:00, então queria deixar a minha deixa a respeito do serviço público, que realmente esta precário, burocrático e ainda necessita de mais eficiência.Enquanto minha mãe aguardava o atendimento da minha tia, voltei para o carro e continuei a ler um livro, se não foi o melhor que já li em minha vida, chamado "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva. Era um cara que estudava Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Campinas, a Unicamp, que estava bêbado e chapado e resolveu se atirar um lago, o lago tinha meio metro de profundidade, sendo assim, ao cair, ele fratura a C5, ou seja, a quinta vértebra cervical, mas não seccionou (acredito que seccionar seria não lesionar a medula por inteiro, EU ACHO!!). Após isso, ele vai para o hospital e percebe que perdeu os movimentos dos braços e das pernas, que só consegue falar e movimentar do pescoço pra cima. A partir dai a história do livro se torna mega interessante, e com detalhe, diversas passagens do livro eu consigo trazer pra minha vida, fazendo um paralelo com o meu acidente, no qual sofri luxação na C4 e na C5, tornando muito semelhante alguns sentimentos, questionamentos, reflexões sobre uma pessoa que, depois de alguns minutos em cima de uma cama, sem saber ao certo como que vai se locomover daqui pra frente, muda o jeito de enxergar a vida.Não posso querer comparar a gravidade do acidente dele do meu, porque hoje, Graças a Deus e a mim mesmo, fiz tudo direito e consigo fazer tudo que uma pessoa "normal" consegue fazer, mas o livro questiona a questão da normalidade, o que torna uma pessoa deficiente física diferente de uma pessoa considerada normal!? A deficiência física, óbvio, mas acho que fica só por ai, mas as pessoas preconceituosas tendem a ver essas pessoas com um olhar de piedade, pena, e na verdade deveriam ter um olhar positivo, de força, pois provavelmente aquela pessoa esteve numa horrível e agora estava numa muito boa, sei disso porque andei por 3 meses com um colar cervical horrível, as pessaoas na rua me olhava como se parecesse que eu fosse um monstro, alto, seco, feio e com aquele troço no pescoço, até teve um dia que ganhei uma mochila em um sorteio, no meu curso de tec. em info, até hoje não sei se me sortiaram realmente ou se me deram a mochila por pena, se deram por pena, azar dos outros, tenho que levar alguma vantagem, pois já estava fudido mesmo.Terminei de ler o livro hoje pela manhã, no carro mesmo, mas o final do livro não foi o que era de meu esperado. Torcia enlouquecidamente para o Marcelo se recuperar, sair andando, tocando o seu violão, sair caminhando fumando o seu baseado, transando e beijando as mais diferentes gurias que ele conheceu, mas não, ele termina o livro escrevendo, caminhando em uma cadeira de rodas, escrevendo o seu livro na sua máquina de escrever elétrica. Marcelo era O CARA! Bah era um cara super descolado, inteligente pacas, teve infância difícil, perdeu o pai logo cedo, mas soube se reerguer diante das dificuldades, se mudou pra Campinas, morou em república, fez festas, dava showzinhos, participava de comissões da facul, era um cara super descolado para os anos 80, pode se dizer que era um cara um pouco mais avançado pelo ano que vivia.Admiro pessoas assim, e essas pessoas sim que acabaram se tornando realmente os meus ídolos. Muito fácil é idolatrar alguém conhecido, da mídia, que fez uma ou outra coisinha boa e já virou um símbolo nacional, acho que o Marcelo jamais seria um ídolo nacional, até mesmo porque ele só virou um paraplégico, muitas pessoas são assim, a única diferença é que ele fez um livro, devido a promessa que ele fez a um amigo, no qual perdeu. Uma história de vida de um cara que nunca desistiu de lutar, sempre teve a esperança de voltar a andar, tocar violão, mas aos poucos, foi se deparando com a sua nova realidade, e não deixou nenhum momento de ser feliz. Mesmo sem sentir, tocou seu corpo, suas pernas, seu pinto, até batia punheta (vocabulário do próprio livro), transava, enfim, não perdeu o seu charme, apenas mudou o jeito de aplicá-lo.Foi bom mesmo esse livro, obrigado Camila, sem querer, acertou em cheio no livro que disse que iria me emprestar. Aconselho a todos a ler, eu fiquei facinado. Não tenho muitas fotos de quando eu era um "quebrado", mas ler esse livro fez com que eu voltasse no tempo, há quase 4 anos atrás ( nossa, já faz tudo isso), quando me acidentei, entrei naquela UTI, e com minhas próprias forças, consegui respirar sozinho, aprendi a na marra a ser otimista, e mudei em vários aspectos, principalmente em relação a vida, a ver a vida, assim como Marcelo, hoje eu estou perfeito fisicamente (tá, eu sei que não sou uma perfeição escultural corporal) mas sei que posso fazer todo e qualquer tipo de esforço físico, mas desperto dentro de mim alguns sentimentos que estavam escondidos, sentimentos que logo descobri naquela cama de hospital durante 1 semana, assim como Marcelo, eu também olhava pro cachorro no teto, o dele tinha nome, o Chico, o meu não tinha, mas mesmo assim era um cachorro simpático.Obrigado Marcelo, sei que hoje deve ser um senhor de idade, beirando os 50 anos, mas aposto que a alma continua de um menino bobão revolucionário que só queria fumar maconha e fazer suas músicas, eu não fumo maconha e nem escrevo música, de vez enquando uma poesia e só, mas obrigado por me mostrar que a vida não é apenas a busca contínua para deixar a conta corrente cada vez mais gorda, e sim, ver que a vida é para ser vivida diante das dificuldades, e que nada tem mais valor do que a nossa família, amigos, namorada, beijos, abraços, sexo, alegrias, sorrisos.
Marcelo Rubens Paiva, TU É FODA!!